FEST – Fundação Espírito-santense de Tecnologia

Ecos da Foz: Uma década de luta, memória e reexistência marca os 10 anos do desastre de Mariana

No dia 19 de novembro de 2025, Regência Augusta recebeu o evento “Ecos da Foz: Uma Década de Luta e Reexistência”, um marco simbólico e emocional que reuniu instituições públicas, privadas, pesquisadores, lideranças comunitárias e representantes governamentais para refletir sobre os dez anos do rompimento da barragem de Fundão e sobre os caminhos futuros da reparação na foz do rio Doce. A iniciativa foi promovida pelo Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio) , em parceria com a Secretaria de Estado de Recuperação do Rio Doce (SERD), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Fundação Espírito-santense de Tecnologia (FEST) e Prefeitura Municipal de Linhares (PML).

O encontro reuniu representantes das comunidades atingidas de Regência, Barra do Riacho, Povoação, Degredo e Pontal do Ipiranga, incluindo pescadores, artesãs, comerciantes, quilombolas, índios e surfistas. O objetivo foi revisitar memórias, reconhecer dores e conquistas e debater, de forma coletiva, as expectativas diante das ações previstas no Novo Acordo do Rio Doce.

O evento foi marcado por apresentações culturais da comunidade, como a encenação da Cia das Artes e o tradicional Congo de Regência, que reforçaram a potência da arte como ferramenta de reexistência, identidade e mobilização social. Durante a solenidade, o ICMBio recebeu uma homenagem especial, da FEST/UFES/PMBA, pelo empenho, acolhimento e atuação contínua junto aos atingidos ao longo da última década.

Joca Thomé, coordenador do Centro TAMAR/ICMBio, fez um resgate emocionante sobre os impactos do desastre e a força das comunidades da planície costeira do rio Doce: “Este evento traz reflexão e, junto à tristeza assim como a luta de todos. Ao longo do processo, muitas pessoas aguerridas se uniram nessa luta que é de reexistência. Precisamos de uma governança institucionalizada, que resista a mudanças de governo e garanta que as ações continuem enquanto forem necessárias.”

Representando a FEST, a diretora Patrícia Bourguignon Soares destacou o papel estratégico da ciência e da comunicação junto com a comunidade na construção de caminhos sólidos para a reparação ambiental e social: “A FEST tem orgulho de integrar essa rede de instituições que, há sete anos, se dedica a produzir conhecimento, dialogar com a sociedade e apoiar a estruturação de políticas públicas. A ciência precisa estar a serviço das pessoas e estar aqui hoje, ao lado das comunidades da foz, é reafirmar nosso compromisso com de atuar de forma justa, transparente e participativa.”

Debates sobre monitoramento, pesca e reparação

O evento trouxe uma série de apresentações técnicas e institucionais, abordando programas essenciais como o PMBA (Programa de Monitoramento da Biodiversidade Aquática da área ambiental I – porção capixaba do rio Doce e região marinha e costeira adjacente) e o PMQQS (Programa de Monitoramento Quali-Quantitativo Sistemático de Água e Sedimentos), além das inovações e desafios do novo cenário de governança do rio Doce.

O Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) detalhou as etapas do PROPESCA (Plano de Reestruturação da Gestão da Pesca e Aquicultura), programa que destina mais de R$ 2,4 bilhões à reestruturação da cadeia produtiva da pesca e aquicultura na bacia, foz e região costeira. A apresentação reforçou que a retomada da atividade pesqueira, hoje proibida, segue como uma das maiores demandas e angústias das comunidades.

Já o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) apresentou as diretrizes do Novo Acordo do Rio Doce, destacando que a extinção da Fundação Renova abre um novo ciclo, no qual a União e os Estados assumem diretamente a responsabilidade pela execução das ações de reparação.

Comunidade como protagonista

Durante a Mesa-Redonda “Memória”, pescadores, artesãs e lideranças locais relataram sentimentos, perdas e expectativas. A frase dita pela pescadora Márcia, do Pontal do Ipiranga, ecoou no auditório “Não queremos nada para nós, sem nós.”

A partir desse princípio, lideranças reforçaram a urgência de respostas sobre a liberação da pesca, o futuro dos apoios financeiros e a necessidade de fortalecer iniciativas locais de renda, cultura e preservação da identidade da foz.

Um evento que ecoa para o futuro

Ao longo do dia, representantes de instituições públicas, especialistas e comunidades reafirmaram que as ações de reparação e recuperação reparar o rio Doce e sua foz é um compromisso de longo prazo e que só será efetivo se construído com participação, transparência e ciência.

Para a FEST, que atua em diversos projetos de monitoramento, pesquisa socioeconômica e produção de dados ambientais, o evento foi mais um passo na consolidação desse esforço coletivo. “Ecos da Foz” se encerrou reafirmando o que se tornou lema das comunidades: reexistir é lutar, lembrar, preservar e seguir, juntos, na construção de um futuro mais justo para o rio e para seu povo.

  • Reitor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES): Prof. Dr Eustáquio Vinicius Ribeiro de Castro
  • Secretário de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Linhares (PML): Thiago Magalhães
  • Representante da Prefeitura Municipal de Aracruz: Priscila Nobres
  • Coordenador do Centro TAMAR/ICMBio: Joca Thomé
  • Secretário de Estado de Ações Socioeconômicas e Participação Social da SERD: João Guerino Balestrassi
  • Subsecretária da SERD: Margareth Saraiva
  • Representante do IBAMA: Gustavo Almada
  • Promotora de Justiça do Ministério Público do Espírito Santo (MPES) e Coordenadora do Grupo de Trabalho de Recuperação do Rio Doce (GTRD): Elaine Costa de Lima
  • Diretora Executiva da FEST: Patrícia Bourguignon Soares
  • Representante da Defensoria Pública do Espírito Santo: Márcio Greick Souza Oliveira
  • Representante da Defensoria Pública do Espírito Santo: Márcio Medeiros
  • Representante do Ministério da Aquicultura e Pesca (MPA): Nathália Bignotto
  • Representante da Secretaria Executiva do Rio Doce e integrante do Grupo Técnico de Acompanhamento do PMQQS: Ana Kelly Simões
  • Pesquisador e Coordenador do PMBA/FEST-UFES: Prof. Dr Fabian Sá
  • Comunidade Vigilantes da Foz do Rio Doce
  • Associação de Moradores de Pontal do Ipiranga
  • Associação Indígena Tupiniquim de Comboios
  • Associação de Pescadores de Degredo
  • Associação da Comunidade Indígena de Areal
  • Comissão dos Atingidos de Linhares
  • Associação Criarte
  • Associação do Comércio de Povoação
  • Associação de Pescadores de Regência
  • Outras lideranças e representantes comunitários presentes no evento

Texto: Vanessa Pianca