Programa de Monitoramento da Biodiversidade Ambiental (PMBA) faz parte do acordo de cooperação firmado entre a Fundação Espírito-Santense de Tecnologia (Fest) e a Fundação Renova e visa dar subsídios para a tomada de decisão referente às ações de conservação da biodiversidade da região impactada pelo rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana (MG).
Estão sendo investidos R$ 120 milhões na pesquisa de monitoramento da fauna e da flora da porção capixaba do rio Doce e também dos ambientes marinhos e costeiros impactados. São analisados também, comparativamente, dados anteriores ao rompimento. Dessa forma, será possível identificar o impacto agudo e crônico sobre as espécies e a cadeia alimentar, além de avaliar o habitat do fundo marinho, a qualidade da água e a ecotoxicidade, tornando possível indicar eventuais medidas reparatórias.
O programa coleta amostras de água, sedimentos, animais e vegetais. Para realização do monitoramento, estarão envolvidos cerca de 550 profissionais, entre eles colaboradores, pesquisadores e acadêmicos. Além disso, é priorizada a contratação de mão de obra local, como pescadores e catadores de caranguejo.
Ao todo são monitorados pontos de toda a porção capixaba do rio Doce e da região que vai do entorno de sua foz (em Linhares) a Guarapari (ES) – ao sul – e até Abrolhos (BA) – ao norte.
As coletas incluem água, sedimento, organismos aquáticos em geral, incluindo plâncton, algas, bentos, peixes, análises em tartarugas, golfinhos, observação de baleias, aves, até imageamento do fundo marinho.
Para o estudo serão utilizados drones, aeronaves e embarcações de pequeno, médio e grande portes, além de sensores de diversos tipos, imagens de satélites e boias automatizadas, equipadas com instrumentos específicos para esse tipo de monitoramento. Os laboratórios das universidades realizam as análises das amostras.
Os resultados dos monitoramentos são entregues trimestralmente à Fundação Renova. A cada ano é realizado um seminário para apresentação dos resultados com a participação dos órgãos ambientais.
O PMBA é dividido em oito grandes temáticas. Cada uma delas é subdividida por expedições de coletas e estudos específicos voltados ao seu campo de atuação. São eles:
Anexo 1: Ecotoxicologia
Monitoramento ecotoxicológico dos impactos causados pela lama oriunda do rompimento da Barragem de Mariana (MG) em regiões estuarinas, marinhas e dulcícola.
Coordenador Camila Martins Furg
O monitoramento ecotoxicológico é dividido em quatro expedições, que totalizam 50 pontos de coleta distribuídos entre o rio Doce, mangues, praias e mar, a fim de verificar a contaminação nos ambientes e na biodiversidade. São três equipes: uma responsável por coletar material do campo marinho como água, sedimentos, bentos, medições de temperatura, salinidade, turbidez, análise de metais, dentre outros e começam em Setiba (Guarapari), passando por Vitória, Aracruz, foz do Rio Doce, Itaúnas, para terminar no Parque Nacional Marinho de Abrolhos (BA). Outra que faz monitoramento terrestre nas praias do litoral norte do Espírito Santo e nos manguezais situados entre Aracruz e Caravelas (BA) e a terceira que se dedica exclusivamente ao rio Doce.
Anexo 2/3: Ambientes Dulcícolas
Estudo e monitoramento ambiental da área dulcícola (ES)
Coordenador Prof. Daniel Rigo Ufes
O monitoramento dulcícola faz a avaliação ambiental na região de água doce com o monitoramento da qualidade da água e sedimentos. O estudo envolve a análise de integração da bacia hidrográfica com a região costeira e marinha englobando a análise de fluxos, bem como estudos hidrobiológicos, (macrófitas aquáticas, fitoplâncton, zooplâncton e perifiton), hidroquímicos (material particulado em suspensão, nutrientes, metais, etc) e qualidade do sedimento da área dulcícola referente ao Estado do Espírito Santo.
Anexo 3: Ambientes Marinhos e Estuarinos
Estudo e monitoramento ambiental da área dulcícola (ES), estuarina e marinha.
Coordenador Prof. Paulo Salomon UFRJ
O estudo biológico e da qualidade de água e sedimentos da área marinha, que envolve a análise dos habitats marinhos e o potencial impacto derivado do rompimento da barragem, se refere ao acompanhamento de medidas específicas nos ambientes marinho e estuarino (encontro do rio com o mar). Engloba o monitoramento mensal de 11 estações na plataforma continental adjacente à foz do Rio Doce. O monitoramento trimestral engloba 34 estações (Vitória ao limite norte do estado do ES) e o monitoramento semestral envolve 41 estações entre Guarapari (ES) e Abrolhos (BA). Além da coleta e análise de água e sedimento para parâmetros sedimentológicos, físicos e geoquímicos (material particulado em suspensão, granulometria, mineralogia, metais, nutrientes e compostos orgânicos, temperatura, salinidade, turbidez, entre outros) em associação com parâmetros hidrobiológicos (composição, estrutura e dinâmica das comunidades planctônicas e bentônicas) a partir de coletas periódicas)
Anexo 4: Praias
Monitoramento de potenciais impactos do rejeito de minério de ferro na praia e antepraia adjacentes da desembocadura do rio Doce
Coordenador Profa. Jacqueline Albino Ufes
O monitoramento das praias verifica a possibilidade de contaminação da areia da praia próxima à foz do rio Doce. O objetivo é avaliar a sua balneabilidade, o uso para o lazer e as condições ambientais do local, além do nível do impacto e as consequências sobre as atividades ecológicas e econômicas do litoral. A pesquisa busca saber qual o alcance máximo dos contaminantes ao longo da costa, seu deslocamento ao longo do tempo, os processos envolvidos na distribuição dos contaminantes e a resiliência da praia para neutralizar a ação dos contaminantes ao longo do tempo.
Foram estabelecidas dez estações em todo o litoral que estão localizadas ao longo da planície do Rio Doce (na área da Reserva Biológica de Comboios e, ao sul, no litoral de Aracruz, na Área de Proteção Ambiental Costa das Algas).
Anexo 5: Manguezais e Vegetação de Restinga
Alterações ecológicas na dinâmica dos manguezais e vegetação de restinga sob influência dos sedimentos provenientes do Rio Doce
Coordenadora Profa. Diolina Moura Ufes
Coordenadora Profa. Mônica Tognella Ufes
O anexo 5 monitora os manguezais da costa norte do litoral capixaba até o litoral sul da Bahia. Serão estudados o estuário do rio Piraquê, bosques de franja nos arrecifes e estuário do rio Riacho (Aracruz), foz do rio Doce e estuário do rio Uruçuquara (Linhares), estuário do rio Mariricu (Barra Nova), estuário do São Mateus (São Mateus e Conceição da Barra) e estuário do rio Caravelas (Caravelas – BA). Além dos aspectos de monitoramento ambiental envolvendo as florestas de manguezal nas áreas, serão realizados estudos de análise da dinâmica estuarina para avaliação do processo de dispersão dos contaminantes e monitoramento por meio de obtenção de dados da vegetação que identifiquem estresse ambiental ou perda de qualidade da floresta.
Anexo 6: Mamíferos Marinhos, Tartarugas e Aves Marinhas
Monitoramento de mamíferos marinhos, tartarugas e aves marinhas associados à foz do rio doce, plataforma continental e áreas protegidas adjacentes
Coordenador Sarah Vargas Ufes
O anexo 6 acompanha a fauna da região ao redor da foz do Rio Doce, sobretudo de mamíferos, tartarugas e aves marinhas, por ser uma área importante para desova, reprodução e alimentação de diversas espécies ameaçadas de extinção, como o boto-cinza, a toninha e a baleia-jubarte. O entendimento dos padrões de uso e deslocamento desses animais em áreas possivelmente impactadas ao redor da foz do rio Doce é de fundamental importância, caso sejam detectadas ameaças a essas espécies em áreas com maior grau de impacto.
O objetivo é avaliar e monitorar a distribuição, abundância e área de vida de mamíferos marinhos em áreas potencialmente impactadas ao redor da foz do rio Doce, abrangendo áreas marinhas costeiras e oceânicas adjacentes, incluindo o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, Reserva Biológica de Comboios, Área de Proteção Ambiental Costa das Algas e Refúgio de Vida Silvestre de Santa Cruz.
A equipe está desenvolvendo um trabalho de avaliação da distribuição, ou seja, do espaço da região costeira onde estão posicionados os organismos da megafauna, principalmente. São os grandes organismos, os grandes animais marinhos e principalmente golfinhos e baleias, mamíferos marinhos, e os quelônios ou tartarugas marinhas. São registrados todos os tipos de organismos encontrados.
Anexo 7: Ictiofauna Marinha, Estuarina e Dulcícola
Estudo e monitoramento da ictiofauna marinha, estuarina e dulcícola
Coordenador Prof. Tomas Hrbek Ufam (ambiente dulcícola)
Coordenador Prof. Maurício Hostim Ufes (ambiente marinho)
O anexo 7 faz análises ecológicas de amostras de peixes de água doce e salgada afetados direta (ou indiretamente pelos rejeitos de minério resultantes do rompimento da barragem de Fundão (Mariana/MG). O monitoramento determinará os parâmetros ecológicos das espécies coletadas nesses ambientes como a ocorrência, abundância, biomassa e tamanho dos peixes, além da obtenção de dados sobre alimentação, reprodução de cada espécie e dos parâmetros populacionais.
O monitoramento da ecologia e genética de peixes surge como uma necessidade de compreensão, a médio e longo prazo, das consequências do derramamento do minério.
Anexo 8: Sedimentação em Abrolhos
Monitoramento da sedimentação no Parque Nacional Marinho dos Abrolhos e regiões relacionadas
Coordenador Prof. Heitor Evangelista Uerj
O anexo 8 monitora a sedimentação na região do Parque Nacional Marinho (Parnam) dos Abrolhos por causa de sua importância ecológica e do risco potencial de que os dejetos vindos do rompimento da Barragem de Fundão cheguem ao arquipélago dos Abrolhos. Esse estudo é proposto para acontecer em duas partes: buscar uma calibração para as imagens de satélite no parâmetro MPS (Material Particulado em Suspensão) e gerar mapas que mostrem a evolução temporal desse parâmetro entre a foz do rio Doce e Abrolhos, e também, monitorar em caráter sazonal, o material em suspensão no mar e a sedimentação da região, visando determinar a assinatura geoquímica do material aportado ou ressuspendido.
O objetivo é determinar se os principais contribuintes do material sedimentar encontrado na região provém da foz do rio Doce, do rejeito da barragem de Fundão e/ou do estuário de Caravelas (BA).